O regresso às aulas é normalmente um momento de preocupação por parte das famílias, muitas vezes com bastante entusiasmo à mistura. Este ano letivo vai ser diferente de todos os outros. Em primeiro lugar, pelo grau de incerteza que o rodeia, claro, devido à pandemia da covid-19. Em segundo, por todas as adaptações que vai exigir das crianças, dos pais e da estrutura escolar. Seguem-se algumas sugestões para acompanhar as crianças nesta fase:
1-Treinar as novas rotinas de higiene
As crianças regressaram ao ensino presencial. A melhor forma de dar tempo às crianças para se ajudarem e para reduzir a estranheza destas rotinas no regresso à escola será começá-las em casa. É importante insistir em lavar as mãos antes e depois de comer, depois de brincar no exterior, depois de tossir ou espirrar. O distanciamento social também será praticado, dentro do possível e consoante as idades, nas escolas. É importante explicar previamente às crianças que nas salas de aula para as quais vão regressar estarão sentadas mais distantes dos colegas, passarão mais tempo ao ar livre, os materiais não serão partilhados como anteriormente e muitas escolas irão dividir as turmas em grupos.
2-Conversar sobre as mudanças, antecipando-as
A covid-19 já entrou nas vidas, brincadeiras e pensamentos das crianças, mas o facto de já não ser novidade não significa que não crie ansiedade e que deva ser ignorada. Para descansar os mais pequenos, é importante relembrar que na escola irão aprender e brincar com os amigos, mas também devemos voltar a falar sobre o vírus, o que se sabe sobre ele, como se transmite e o que podemos fazer para o evitar. Devem perceber que em casa têm o apoio emocional de que precisam. Também em casa, devemos explicar a importância das máscaras na proteção das pessoas e podemos habituar as crianças a elas através da brincadeira: pondo máscaras em todos os peluches, ou com os adultos a pôr e tirar as máscaras, ou a fazer diferentes caretas atrás da máscara que as crianças têm de adivinhar (é um sorriso, uma cara de zangado, uma cara de espanto, etc).
3-Importância da escola
Não são apenas as crianças que se sentirão angustiadas com o regresso às aulas. A pandemia não deixa ninguém indiferente e é totalmente normal que os adultos também questionem se é segura a reabertura das escolas. Na era da superinformação, é importante evitar o pânico transmitido por sites de notícias falsas, a generalização de estudos – que, ainda que sejam científicos, podem não ser generalizáveis, ou a extrapolação do que possa ter ocorrido ou estar a ocorrer noutros países, para a realidade portuguesa.
Alguns dados breves:
Num comunicado conjunto, a Direção da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), a Direção da Sociedade de Infeciologia Pediátrica da SPP e a Direção do Colégio de Especialidade de Pediatria da Ordem dos Médicos explicam que as crianças “parecem ter menor incidência da doença e desenvolver sintomas ligeiros e transitórios, de evolução benigna, sendo os internamentos e as fatalidades excecionais”. Além disso, segundo o ECDC, “as crianças transmitem o vírus quando estão sintomáticas”, mas “a maior parte das crianças não desenvolve sintomas quando está infetada”.
Em termos dos benefícios da frequência da escola, o comunicado das três instituições de pediatria afirma que a interrupção escolar o ano passado “teve grande impacto na saúde das crianças, a nível da aprendizagem, da socialização e da saúde mental”. Na reabertura das escolas, “dever-se-á assegurar normalidade nas relações entre crianças, não impondo medidas estritas que sejam impossíveis de cumprir, sobretudo pelas mais jovens. É essencial que se retomem as brincadeiras nos intervalos das aulas e que estes tenham uma duração adequada”, concluem.
Para terminar, um despacho do Ministério da Educação informou que as crianças de grupos de risco com declarações médicas que o atestem podem ter aulas em casa à distância. Crianças que apresentem sintomas de doença não devem ir à escola e os adultos devem contactar a linha saúde 24.
Adaptado de: Joana Louçã
Doutorada em sociologia da infância